Porto, 10 de Setembro de 2024
Disse-lhes que ainda não tinha feito as pazes com o meu passado. Ao que parece, sou um caso raro. As suas palavras tentaram demonstrar-me como é possível controlar todos os aspectos da nossa vida, e não faltaram exemplos para ilustrá-lo. Mas eu não acredito em pedras filosofais, nem sou descrente o suficiente para julgar que nesta peça podemos sentar-nos à mesa do dramaturgo. Cabe-nos simplesmente cumprir o papel que nos foi atribuido numa audição às cegas. Mas indepedentemente disto tudo ser uma comédia ou uma tragédia, e apesar das constantes emendas que são feitas, ainda por cima num guião escrito a várias mãos, a verdade é que acabamos sempre por ocupar o lugar do protagonista. E penso: poderia ser pior.
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Créditos Fotográficos: Imagem de capa da primeira edição da Morte do Palhaço e o Mistério da Árvore, de Raul Brandão, 1926.