Porto, 8 de Outubro de 2024
Tinha de ser assim. Pouco valeram as preces que orei no altar do santo que naquela hora me pareceu estar mais inclinado para uma intervenção divina. A vontade de uns quantos dita a certeza de todos. E Deus assiste..., atento. Até ao final do mês, aquele lugar respirará os seus últimos fôlegos, já atordoado depois de tanta luta, mas orgulhosamente de pé. Foi de lá que veio, embrulhado em prenda que despertou todas as minhas curiosidades de garoto (para, depois de aberta, ficar desolado com a sorte que me havia calhado), o primeiro livro que li na íntegra. Na época, tinha eu pouco mais de dez anos, nada me parecia mais enfadonho do que estar serenamente a encarar daquele objecto estático, mas por alguma razão consegui aguentar a dose e acabei por sair dessa experiência do avesso. Entrei novamente numa pia baptismal que me concedeu um passaporte para um novo mundo. Renasci-me. E, desde então, tantas páginas foram aquelas que virei, numa atitute simplesmente ilusória, mas urgentemente necessária, de um dia dar de caras outra vez com um desses momentos que nos mudam de alto a baixo.
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Créditos Fotográficos: Capa do livro "O Menino Que Não Gostava de Ler", de Susanna Tamaro. Disponível aqui.